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O passo a passo para abandonar de vez o tabagismo

No meu último artigo (se não o leu, clique aqui), explico com detalhes como o tabagismo tem influência sobre o AVC e muitas outras doenças.

De forma bem resumida, o consumo dos produtos derivados do tabaco – cigarro tradicional, cigarro eletrônico (ou vape), cigarro de palha ou narguilé – praticamente dobra o risco de AVC. Além disso, quanto maior for o consumo, também maior será esse risco.


Deixo bem claro que esse risco não é exclusivo de quem fuma, mas também de quem convive no mesmo ambiente fechado e inala a fumaça do tabaco. Esse é o chamado fumante passivo.


Segundo um estudo de 2019, o fumante passivo tem 45% mais risco de ter um AVC, comparado a quem não se expõe à fumaça alguma.


Ainda nesse artigo, comento também que é difícil parar de fumar e isso se deve, sobretudo, ao efeito da nicotina. Para se ter uma ideia, mesmo após uma doença como o AVC, que pode levar à morte, cerca de um terço (1/3) de todos os fumantes continua o hábito.


Preste bastante atenção: se você já teve um AVC e não parou de fumar, você tem o dobro de risco de ter um segundo AVC, comparado a quem não fuma.


Por isso, compreendendo o quanto é difícil essa tarefa de abandonar o uso do cigarro, trarei o passo a passo de como fazer isso, de forma a obter as maiores taxas de sucesso. Vamos lá!


1º passo: Comece avaliando seu grau de dependência


O teste de Fagerström é o questionário mais utilizado para medir o grau de dependência ao tabagismo e você próprio(a) pode preenchê-lo.


Responda às perguntas do quadro abaixo:

Agora some o total de pontos e veja como se enquadra a sua dependência à nicotina:


0-2: muito baixa

3-4: baixa

5: média

6-7: elevada

8-10: muito elevada


2º passo: Liste o que te leva a fumar, pois pode ser a chave para abandonar esse hábito


Quero fazer agora um exercício contigo. Pegue um papel e caneta. Pare por 5 minutos, em um ambiente calmo, de preferência sozinho, e pense: quais as situações me levam a pensar no cigarro e a fumar?


Passados os 5 minutos em que você pensou, quero que anote no papel e use sempre como seu guia. Mas, guia para quê? Para que você tente evitar tais situações ou, quando não for possível, encontre maneiras de mudar o foco, para não pensar em fumar.


Vou te ajudar. Reconheça se já acendeu o cigarro em uma ou mais dessas situações:

  • Acompanhado de uma xícara de café;

  • Ao ir ao banheiro, após levantar-se;

  • Após as refeições (por exemplo: após o almoço ou jantar);

  • No momento de descanso/pausa entre as tarefas;

  • No momento de alteração do humor (por exemplo: estresse, raiva, irritabilidade ou tristeza);

  • Ao fazer uso de bebida alcoólica;

  • No encontro com amigos, em festas ou churrascos;

  • Junto de outras pessoas que estão fumando.

Se havia esquecido de colocar alguma dessa situações no papel, anote-as imediamente. Lembre-se: esse papel deve ficar sempre à sua vista, todos os dias.


Agora, repare bem que não estou te orientando a se afastar de vez das pessoas que fumam. É bem verdade que pode ser seu chefe que fuma no local de trabalho, ou ainda um familiar seu dentro da própria casa. Por isso, comece com uma boa conversa explicando que está decidido(a) a deixar de fumar e peça o apoio necessário nessa fase.


3º passo: Estou decidido(a) a parar de fumar, como posso fazer?


Se você chegou aqui e decidiu parar de fumar, excelente escolha. Isso é sinal que você está determinado a parar de fumar.


Acredite, esse já é um grande passo. Muitos nem pararam para pensar no problema que é fumar. Outros até pensaram, mas não estão convencidos de que precisam mudar. Outros ainda, até pensaram, mas já se decidiram por seguir fumando. Ou seja, você já está léguas a frente.


Existem três métodos para abandonar o tabagismo. São eles:

 

1º método:

Parada abrupta: significa parar de fumar de uma hora para outra, abandonando totalmente o uso de cigarro.


Por exemplo, você fuma normalmente dois maços de cigarros por dia hoje e nenhum a partir de amanhã.


2º método:

Parada gradual por redução: é aquela em que você escolhe parar de fumar em alguns dias.


Por exemplo, se você fuma 30 cigarros por dia, pode decidir reduzir o número de cigarros em cinco a cada dia. No primeiro dia, consome 25 cigarros; no segundo, 20; no terceiro, 15; no quarto, 10; no quinto, 5; e no sexto, não fuma mais nenhum.


3º método:

Parada gradual por adiamento: é aquela em que você adia a hora na qual começa a fumar por um número de horas predeterminado a cada dia. Uma vez que comece a fumar cada dia mais tarde, não há necessidade de contar cigarros nem de se preocupar em reduzir o número a ser fumado.


Por exemplo, no primeiro dia, você começa a fumar às 9h da manhã; no segundo, às 11h; no terceiro, às 13h; no quarto, às 15h; no sexto, às 17h, e assim sucessivamente.

 

Recebo sempre essa pergunta: existe algum método melhor que outro? A resposta é: não! Existe o método que você acha melhor para si e decide levar adiante.


Se você está especialmente ansioso(a) a respeito de parar de fumar, pois não tem confiança nas suas chances de sucesso, o método da parada gradual (2º ou 3º) pode ser uma alternativa melhor do que a parada abrupta.


Mas lembre-se: se escolher a parada gradual, ela deve levar apenas alguns dias. Diminuir o número de cigarros de forma muito lenta, por um período de tempo mais longo (várias semanas, por exemplo), pode se tornar mais difícil, além de indicar que você ainda não esteja suficientemente motivado(a) para deixar de fumar.


Quero agora que pare, pense por 5 minutos e faça a escolha de um deles.


Existe a necessidade de buscar ajuda para parar de fumar?


Muitos que desejam parar de fumar atingem o êxito fazendo isso sozinhos. Mas acredite, é muito mais difícil e o abandono do hábito pode não ser duradouro.


Além dos métodos que eu citei acima, o acompanhamento com um profissional de saúde é importante. Existem estratégias medicamentosas para ajudar a parar de fumar, assim como abordagens terapêuticas, como a cognitivo-comportamental, já muito estudadas e benéficas para essa finalidade.


Além do mais, podem aparecer sintomas nas primeiras 2 a 4 semanas após a abstinência à nicotina. Os mais comuns são: ansiedade, nervosismo, fome intensa, ganho de peso, sensação de secura na boca e dificuldade para dormir. Todos esses, de alguma maneira, podem levar à recaída logo no início.


Atenção: se você tiver obtido um valor maior que 6 pontos no teste de Fagerström (1º passo), sua chance de apresentar algum dos sintomas acima é maior. Por isso, o acompanhamento é sempre bem-vindo e pode te ajudar também a controlá-los.


Conheça minha relação com o cigarro. Ou melhor, com o abandono dele.


Muitos não conhecem minha história. Então, deixa eu te contar bem rapidamente.


Tornei-me médico em 2016 e logo fui trabalhar em uma unidade de saúde no interior do Ceará, cuidando de quase 10 mil pessoas.


Em mais de 1 ano prestando meus serviços, entendi que o tabagismo era um grande problema naquela área. Por isso, encabecei um projeto de muitos braços (com enfermeira, psicóloga, fisioterapeuta, nutricionista) para ajudar a controlar o tabagismo naquela população.


Acompanhei 40 pessoas que estavam inicialmente dispostas a parar de fumar e fizemos um programa que levou alguns meses. Nesse tempo, é claro que muitos abandonaram a ideia, como tudo na vida. Afinal, nem todos querem pagar o preço de ter uma saúde de qualidade lá na frente. Porém, das 40 pessoas, 27 abandonaram completamente o uso do cigarro e se mantiveram assim pelo 1º ano que eu os acompanhei. Ou seja, conseguimos mudar a vida de quase 70% dos participantes. Muita coisa, não é?


Esse relato breve é para te estimular a começar, porque muitos obtém sucesso todos os dias. Basta dar o primeiro passo e permanecer firme na decisão. Não há segredo: siga os passos acima, sempre junto de algum profissional qualificado na área.


Fique à vontade para procurar seu médico de confiança e começar esse acompanhamento. Se quiser minha ajuda de forma individualizada, clique aqui.


Como já falei em outros artigos, meu objetivo é sempre te ajudar. Mas, antes, preciso te conhecer melhor. Você fuma ou conhece alguém que fuma? Começou a fumar há quanto tempo? Qual situação do dia a dia mais te leva a fumar? Responda essas perguntas aqui embaixo, nos comentários, que eu darei uma dica valiosa para enfrentar essa situação e não acender o primeiro cigarro.


Agora a decisão de começar é toda sua. Estou junto e torcendo por ti. Vamos lá?


Referências:

  1. Stroke. 2021;52(7):e364-e467. doi: 10.1161/STR.0000000000000375.

  2. Medicine (Baltimore). 2019;98(12):e14872. doi: 10.1097/MD.0000000000014872.

  3. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer - INCA.

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